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Crítica: “Jogos Vorazes: A Esperança – Parte 1”

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Um Prólogo que resolveu virar filme. 
Escrito por Márcio Sallem
Em cartaz nos cinemas

Jogos Vorzes A Esperança Parte 1

3estrelas

Admiro a distopia criada pela escritora Suzanne Collins, seu regime opressor inspirado em fragmentos do totalitarismo Nazista e Romano e a maneira com que a Capital encontrou para se perpetuar no poder: os desumanos jogos do título (aqui e aqui vocês leem meus elogios). Melhor, uma das formas, pois neste Jogos Vorazes: A Esperança – Parte 1 a propaganda e mídia finalmente fazem manchete, que denuncia as artimanhas que as sociedades, independente de lugar ou tempo, empregam para manipular a opinião pública em porl de interesses mesquinhos e da perpetuação no poder. E que uma franquia, em seu penúltimo filme, ainda encontre temas atuais a debater em vez de preocupar-se somente em preparar o terreno para a iminente conclusão está entre seus aspectos mais gratificantes.

Porém, nem tudo são flores neste pré-clímax que suporta o pesado fardo simbolizado pelo aposto “Parte 1”, do qual sofreram Harry Potter e A Saga Crepúsculo. Se a experiência de mercado provou ser lucrativo apostar em ‘dividir para conquistar’, permaneço reticente por jamais ter encontrado um bom exemplo que justifique a prática. Felizmente, por enquanto, isto acomete só os últimos livros das franquias e não os demais.

Nesta Parte 1, o olho gordo dos produtores cobra preço no excesso de gordura a ser cortado nas breves 2 horas de narrativa. Redundância de ideias (Katniss encena dois vídeos em circunstâncias idênticas), personagens descartáveis (adoro Effie e sua intérprete, Elizabeth Banks, mas seu papel é nulo no desenrolar dos eventos), cenas esticadas para atingir a cota de duração pré-estabelecida dos blockbusters (o romance entre Katniss e Gale havia rendido o bastante) e, o mais grave, a carência de um desfecho satisfatório. Evidente que, por trazer um contexto solidificado e povoado por personagens calejados, desgastados pelo que já vivenciaram e humanos, na melhor e pior acepção da palavra, não havia como a Parte 1 desapontar inteiramente.

Escrito por Peter Craig e Danny Strong, estreantes na franquia, e dirigido por Francis Lawrence de Em Chamas, esta narrativa reproduz, economicamente em seus primeiros minutos, o estresse emocional suportado por personagens que desejariam estar mortos caso não estivessem lutando pela causa mais nobre que há: a liberdade. Uma luta não mais travada na Cornucópia, e sim nos monitores de televisão.

De um lado, a propaganda de Plutarch (Philip Seymour Hoffman que, na posição do Ministro da Propaganda Nazista, Joseph Goebbels, disfarça sua aflição crescente no sorriso otimisticamente cínico de canto de boca; que falta fará ao cinema a perda precoce do melhor ator de sua geração). Seus vídeos, protagonizados por Katniss, instigam os Distritos a debelaram-se contra a Capital em atos terroristas suicidas e inevitáveis para suplantação de regime. Do outro, a desinformação do Presidente Snow (Donald Sutherland, cada vez melhor), reeditando o Coriolano de Shakespeare em seu desvario facista de que os plebeus dos Distritos são inferiores aos patrícios da Capital. Sua arma é Peeta, na tentativa de esfriar os ânimos populares e então desmoralizar os rebeldes… desculpem-me, os radicais, mudança sutil que Snow faz no intuito de conferir ares de ilegalidade ao clamor legítimo do povo. Aliás, esta é só uma arma que a imprensa hodierna devora no almoço e jantar e maliciosamente regurgita ao povo ávido por qualquer informação que pareça confiável.

Apesar de parecer o cenário de uma guerra fria, o cotodiano revela o oposto. Distritos destruídos, cadáveres carbonizados e hospitais superlotados são o amanhecer de uma guerra civil, cuja cara da revolução não é outra senão Katniss, por mais que negue e relute em aceitar a própria natureza beligerante. Em seu sangue corre conflito, e Jennifer Lawrence, em ótima performance felizmente menos over que o episódio anterior, revela-nos isto na naturalidade com que empunha seu arco e no sorriso em carregá-lo novamente. Não que não persista inocência na alma sofrida e guerreira de Katniss – a brincadeira com um gato traz consigo um alívio à sufocante narrativa – porém as cicatrizes jamais desaparecerão dessa protagonista trágica por natureza.

Ou de Peeta, capturado pela Capital e vítima de lavagem cerebral, ou telessequestro, cujo conceito é introduzido só nos minutos finais da narrativa, o que não deixa de ser tristemente semelhante à introdução atrasada do imprinting em A Saga Crepúsculo. Mas havia indícios de algo errado no colarinho apertado com que o figurino sugere a tortura a que estava submetido Peeta ou então na perda de peso visível a cada novo vídeo. E não, Josh Hutcherson submeteu-se apenas à dieta dos efeitos especiais. O que não representa desonestidade ou covardia, afinal se uma superprodução pode arcar com emagrecimento verossímil através de computação gráfica e evitar submeter o ator a mudanças físicas drásticas, por que não utilizá-lo?

Mas reaproveito covardia para illustrar a avalição mais baixa de A Esperança – Parte 1 em relação a seus irmãos. Covardia em assumir-se como uma narrativa consistente para despontar isolada na franquia ao invés de mostrar o que verdadeiramente é: o prólogo enriquecido a base de fortes hormônios do desfecho que estamos aguardando desde que Katniss acertou sua flecha no coração da Capital e com ela reacendeu os ânimos de um povo oprimido. No caso, nós, vítimas da ganância opressiva da indústria do cinema.

Ficha técnica: The Hunger Games: Mockingjay – Part 1 (2014). Direção de Francis Lawrence. Roteiro de Peter Craig e Danny Strong baseado no livro de Suzanne Collins. Com Jennifer Lawrence, Josh Hutcherson, Liam Hemsworth, Woody Harrelson, Donald Sutherland, Philip Seymour Hoffman, Julianne Moore, Willow Shields, Sam Claflin, Elizabeth Banks, Mahershala Ali, Jena Malone, Jeffrey Wright, Paula Malcomson, Stanley Tucci, Natalie Dormer, Evan Ross, Elden Henson e Wes Chatham. Duração: 123 minutos.


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